mardi, janvier 11, 2011

Filme do dia: Vatel- Um banquete para o rei (2000)


Dando prosseguimento ao especial culinário, hehehe
Filme+culinária francesa, e todo mundo já foi pensando que eu ia sugerir Julie & Julia, né? Bem, apesar de todo mundo ligar alta gastronomia francesa com cordon bleu e restaurantes chics, a culinária na França tem uma história muito mais longa e complexa que isso. E antes dos chefs e seus restaurantes existirem, os magos da boa comida estavam nos palácios. É um pouquinho disso que o filme "Vatel-Um banquete para o rei" mostra.

O personagem central de "Vatel" é François Vatel (dãh, hehe), interpretado por Gerard Depardieu. Vatel foi Maître d´hotel do castelo de Chantilly (é aquele mesmo em que o Ronaldo casou com a Cicarelli...) e famoso por inventar o creme Chantilly assim chamado em homenagem ao chatêau (pessoalmente eu acho a criação do Chantilly um evento muito mais digno de nota que o supra-citado casamento, hehehe). 


Château de Chantilly
"Maître d´hotel" geralmente é traduzido como mordomo, mas na França do século XVII o título significava muito mais que isso. O Maître d´hotel era uma mistura de chef, organizador de festas e eventos e mordomo, além de ser o responsável por boa parte da economia doméstica (compra de alimentos, seleção de criados para a cozinha etc). Era uma função importantíssima que vinha acompanhada de grandes honrarias e responsabilidades, e Vatel era o melhor de seu tempo: serviu Nicolas Fouquet, ministro das finanças de Louis XIV e, depois da prisão de Fouquet, ninguém menos que o príncipe Louis de Bourbon, ou príncipe de Condé, renomado nobre e militar, cuja familia tinha um parentesco próximo com Luis XIV.

François Vatel
Vatel era conhecido pela sua competência, criatividade e perfeccionismo quase maníaco. Suas festas e banquetes eram mais luxuosos que os sonhos delirantes de um Joãozinho Trinta viajando no ácido. Quando serviu ao ministro Nicolas Fouquet, Vatel organizou um banquete em honra de Luis XIV de tal modo suntuoso que confirmou as suspeitas do rei de que Fouquet estava desviando dinheiro da coroa. Resultado: Fouquet foi preso e acabou morrendo na prisão vinte anos depois. Depois desse escândalo, Vatel se exilou na Inglaterra e retornou à França para servir o Príncipe de Condé. Condé tinha caído em desgraça perante o rei devido a sua participação na Fronda (guerra civil que ocorreu durante a minoridade de Luis XIV, e que opôs nobres e o poder central representado pelo Cardeal Mazarin, regente de Luis XIV). A fim de recuperar o prestígio e dinheiro perdidos (sem falar de uma posição no exército às véperas da guerra com a Holanda), Condé ordena a Vatel que organize um grande banquete de três dias em honra do rei.

Assim como no banquete que selou o destino de Nicolas Fouquet, esse evento também terá consequencias trágicas, mas dessa vez para o próprio Vatel...

É durante esse banquete de três dias que se desenrola a ação do filme. Aqui vemos um Luis XIV no auge de seu reino e da construção de sua identidade de "Rei-sol", a sociedade de corte descrita por Norbert Elias nos é mostrada com todas as suas regras e códigos complexos, suas disputas por status e poder. Vatel transita por esse universo de luxo e excesso, no qual ele é, ao mesmo tempo, artífice e vítima da sociedade que ajuda a construir com sua arte. Ele é um artista que ama aquilo que faz, mas se torna um fantoche, uma ferramenta nas mãos dos poderosos que se utilizam de seu talento para seus próprios fins. 

Um filme que fala de gastronomia, mas acima de tudo, que nos mostra como a comida (assim como a moda, a arte, a literatura, etc) pode ser uma chave para compreender a sociedade e seus conflitos, e pensar qual é o lugar do indivíduo no complexo equilíbrio de poder entre grupos sociais. 



1 commentaire:

  1. ótima dica, Jô...adorei o blog. Tenho boas dicas de cantores franceses que descobri há pouco tempo.
    Joyce Jonathan (principalmente as músicas Je ne se pas e Sur mes gardes. E tem tbm o Bensé (duas músicas ótimas: Quand je marche e Buvons).
    Tem tudo no youtube. bjão,
    Marilia (colega do francês)

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