Depois do incêndio da boate Kiss na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul, todos nós estamos repensando revendo questões como segurança e fiscalização em espaços públicos, responsabilidades e ações em caso de acidentes, e como evitar esses acidentes, além das evidentes repercussões legais que vem com tudo isso. Muitos agora voltam-se para outros eventos similares ocorridos em outros países, a fim de saber que soluções e idéias que foram tiradas de tragédias similares a fim de nos ajudar a encontrar nossa própria maneira de rever nossa legislação e procedimentos de segurança.
Localizada na comuna de Saint-Laurent-du-Pont, departamento de Isère na Região de Rhône-Alpes, a 5-7 foi inaugurada em Abril de 1970 e sua clientela consistia principalmente jovens das cidades vizinhas, como Grenoble, Chambéry e Voiron. Na madrugada de 31 de Outubro para 1º de Novembro desse mesmo ano, após apenas seis meses de funcionamento, um incêndio começou na boate por volta da 1:40 da manhã, quando cerca de 180 pessoas se encontravam no local. Era uma noite fria de outono e o aquecimento do local estava ligado, o que foi apontado por muitos como a causa do incêndio, mas especialistas nunca chegaram a ser unânimes com relação ao que teria de fato provocado o fogo. As chamas se propagaram pela decoração da boate, feita principalmente em papier mâché e poliuretano, o que além de aumentar a velocidade da propagação do fogo, também produziu gases tóxicos. Ao todo foram contabilizadas 146 vítimas, todas com idades até 26 anos, sendo as causas de morte tanto sufocamento pelos gases como queimaduras. A velocidade do incêndio foi tal que quando os bombeiros chegaram a cena as chamas já tinham consumido praticamente tudo e não foi possivel retirar nenhum sobrevivente dos escombros. Além das vitimas que morreram no local, ficaram feridas seis pessoas, quatro das quais morreram nos dias subsequentes após terem sido internadas num hospital de queimados em Lyon.
A imprensa da época chamou a catástrofe de "bal tragique" (baile trágico).
As semelhanças com o incêndio da boate Kiss são muitas, não apenas pelo cenário da tragédia e a média de idade das vítimas: também no caso da boate 5-7 as portas de segurança foram um elemento agravante já que se encontravam fechadas (supostamente por conta de caloteiros) o que impediu as vítimas de escapar(o que teria sido bastante simples já que a boate não estava lotada), forçando-as a tentar saír pela porta principal, uma estreita porta giratória de metal. Ainda mais grave, assim como a boate Kiss, a 5-7 não tinha alvará para funcionamento e o revestimento do local era altamente inflamável.
Como em muitos casos similares, o incêndio da 5-7 provocou uma reação imediata: nas semanas que se seguiram diversos estabelecimentos foram vistoriados e fechados, e novas normas de segurança foram postas em vigor. Mas foi apenas em 1977 (depois de outros incêndios) que uma legislação regulando a utilização de materiais plásticos e inflamáveis em espaços públicos finalmente entrou em vigor.Apenas dias após o incêndio o prefeito de Saint-Laurent-du-Pont e o Secretário-Geral do departmento de Isère foram afastados de seus cargos, o que gerou alguma polêmica, já que muitos sugeriram que se tratava apenas de encontrar bodes expiatórios para acalmar o público que exigia alguma ação.
Em 1972 cinco pessoas foram levadas a julgamento, sob acusações de negligência, lesão corporal e homicído culposo: o prefeito de Saint-Laurent-du-Pont, Pierre Perrin, o proprietário sobrevivente da 5-7, Gilbert Bas (os dois outros sócios, Jean-Paul Reverdy et Jean-Louis Herbelin pereceram no incêndio), o fornecedor do poliuretano, Alfred Moskovits, e os responsáveis pela instalação do sistema de aquecimento, Marcel et Joseph Vimfles. Gibert Bas foi considerado culpado de lesão corporal e homicídio culposo e recebeu uma pena de dois anos em regime de sursis (isto é sem prisão), os demais envolvidos foram considerados culpados de negligência e condenados a penas menores, também em regime de sursis.
5.670.000 francos foram destinados em indenização às vítimas e familiares, sendo 38.835 francos por vítima (5.920 €).
Em 1976, após uma disputa legal de seis anos, a associação de familiares das vítimas, presidida por Georges Brus (cuja filha morreu no incêndio) erigiu um monumento em memória da tragédia.
Fontes sobre o incêndio do 5-7 (em francês)
Lista das Vítimas:
http://www.ledauphine.com/savoie/2010/10/31/les-victimes
Artigos:
Artigo do site "Securité Incendie" http://www.incendie-securite.fr/2010/retour-sur-la-tragedie-du-5-7-a-st-laurent-du-pont/
Artigo de Guy Debord escrito em 1971 para o número 13 da revista I.S, publicado no site "Pièces et main d´oeuvre" http://www.piecesetmaindoeuvre.com/IMG/pdf/Incendie_du_5-7.pdf
Artigo do site RTL.fr comparando o incêndio em Santa Maria com o de Saint-Laurent-du-Pont http://www.rtl.fr/actualites/info/article/incendie-d-une-discotheque-au-bresil-la-douleur-ravivee-des-familles-des-victimes-du-5-7-7757394447
Artigos do jornal LeDauphine.com:
Detalhes to processo: http://www.ledauphine.com/isere-sud/2010/11/01/de-nombreuses-negligences-relevees-au-proces
O longo combate pelo memorial: http://www.ledauphine.com/isere-sud/2010/11/01/un-long-combat-pour-un-memorial
Como a tragédia do 5-7 influenciou a segurança de estabelecimentos públicos na França? http://www.ledauphine.com/savoie/2010/11/01/l-obsession-des-pompiers-les-issues-de-secours
Christian e Odille Rota, casal sobrevivente do 5-7: http://www.ledauphine.com/isere-sud/2010/11/01/christian-et-odile-rota-les-maries-du-5-7
Depoimentos:
Pierre Montillo, sobrevivente: http://archives.tdg.ch/geneve/actu-geneve/drame-57-hante-rescape-40-ans-2010-10-30
Odette Delvaux, mãe de duas vítimas: http://www.ledauphine.com/savoie/2010/11/01/odette-delvaux-j-en-voudrai-aux-responsables-tant-que-je-vivrai
Georges Guillat e André Mollard, bombeiros: http://www.ledauphine.com/isere-sud/2010/11/01/tous-ces-corps-c-etait-insoutenable
Marie Thérese Vidon, amiga de diversas vítimas: http://www.ledauphine.com/savoie/2010/10/31/j-allais-tres-souvent-danser-la-bas
Odille Rota, Marie-Josée Nier(sobreviventes) e Bernard Nicolet(radialista): http://www.ledauphine.com/isere-sud/2010/11/01/la-seule-boite-qui-pouvait-accueillir-autant-de-monde
José Bonifacio Rodriguez, irmão de uma vítima: http://www.ledauphine.com/savoie/2010/10/31/mon-pere-en-est-mort-de-chagrin
Marie-Pierre Badassari, amiga de oito das vítimas: http://www.ledauphine.com/savoie/2010/10/31/j-ai-perdu-huit-amis-proches-en-une-nuit
Michel Cabaud, médico: http://www.ledauphine.com/savoie/2010/10/31/le-jeune-medecin-confronte-a-une-vague-de-detresse
Alain Lemer, funcionário do ginásio Jean-Jaurés, para onde foram levados os corpos da vítimas: http://www.ledauphine.com/savoie/2010/10/31/un-gymnase-transforme-en-chapelle-ardente
Videos:
Homenagem à banda "Storm" que se apresentava na 5-7 na noite do incêndio. Todos os componentes faleceram.
Documentário: Le tragique incendie du 5-7 à Saint Laurent du Pont.
Episode 1: Le dancing du bonheur
Episode 2: Nuit des cendres
Episode 3: Le choc des images
Episode 4: Rescapés de l´enfer.
Episode 5: le deuil impossible
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